terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Um post sério para um assunto sério.

Me deparei com um post em um blog de moda local que falava da ditadura da magreza nos dias de hoje. Mostrava uma página de revista com uma foto enorme de uma atriz de biquíni e as informações básicas dela na lateral da página. O foco era a discrepância entre altura e peso. E realmente... 50kg não são exatamente o suficiente pra 1,73m. Entretanto, procurei não julgar a pobre atriz e os motivos vocês vão ver quais são a medida que o texto for se desenrolando.

Hoje em dia todo mundo diz que todo mundo quer ser magro e esbelto e é isso aí, mas eu discordo. Reconheço a pressão enorme que as mulheres sofrem para perder peso sempre e a qualquer custo, mas o que eu enxergo realmente é uma sociedade louca, não necessariamente por magreza, mas pelo corpo que não têm.

Eu sempre fui uma criança muito magra, odiava comer a chamada "comida de panela". E cresci ouvindo críticas de todas as minhas tias. Coisas do tipo "coma direito, menina, você parece um cambito" ou "tá doente, querida, anda tão magrinha...". Eu lembro que eu realmente me esforçava pra gostar de feijão, arroz e carne. Eu só queria engordar um pouco, queria que os relógios de pulso coubessem no meu braço e não chegassem quase até meu cotovelo! Eu queria o corpo que eu não tinha. Minha sábia mãe não me deixava tomar remédios para engordar porque ela me dizia que "no tempo certo meu corpo iria mudar".

Certa ela, aos doze anos eu comecei a engordar e aos treze eu já era considerada "gordinha". Aos quatorze eu percebi, descontente, que havia exagerado um pouco na minha idéia de engordar. Talvez eu devesse entrar numa dieta e tentar emagrecer. Porque não? Começou a corrida contra a balança que eu tanto passei a odiar. Porque eu havia engordado?! Porque eu não poderia voltar a ser como era antes? Magrinha, uma tábua, retinha. Porque as mesmas tias que me diziam pra comer direito agora passavam a mão na minha cabeça e comentavam "cresceu, hem? Tá fortinha" ou "você engordou, querida?".

Decidam-se, porra.

O ponto é: o desgosto que eu sentia por ser considerada gordinha na adolescência é exatamente o mesmo que eu sentia quando era considera magricela na infância. Doía ser chamada de "gorda" como doía ser chamada de "magricela". Em qual parte da minha vida eu fui realmente feliz com meu corpo? Nenhuma. As pessoas não conseguem deixar de perseguir esse ideal ridículo que muitas vezes só existe em suas próprias cabeças. Eu bem observei amigas minhas seguirem o caminho inverso: passarem de gordinhas à magrinhas e olha, que falta de sorte a nossa, viu? Nem eu nem elas estávamos satisfeitas. Puta mundo injusto e exigente.

Claro que desde a era Twiggy as magrinhas conquistaram seu espaço no mundo da moda e hoje são soberanas nas passarelas, por exemplo. Não devemos esquecer, entretanto, que a über diva de todas as divas de todos os tempos (na minha humilde opinião) Miss Marilyn Monroe vestia manequim QUARENTA.

Quantas mocinhas que vestem quarenta você conhece que não se acham gordas?

É uma questão pura e simples de se sentir confortável com o corpo que tem. Continuo com minha crença inabalável de que, na maioria das vezes, quando a roupa não lhe favorece a culpa é do estilista! Ficou folgado no busto? Não é culpa sua que não tem peitos grandes é culpa de quem fez. Tá marcando o pneuzinho? Você não está acima do peso, o caimento da roupa que não é legal. É lógico que o mínimo de discernimento ajuda e que existem modelos de roupas que caem melhor em certos tipos de corpo, mas na maioria das vezes a culpa não é nossa.

A Levi's criou recentemente calças jeans que favorecem diferentes tipos de corpo. Ótimo! Isso só serve pra mostrar o quanto nós, mulheres, somos diferentes umas das outras e essas diferenças devem ser respeitadas no mundo da moda. Quem dera existissem modelos de várias alturas, pesos e corpos diferentes desfilando por aí afora... Porque às vezes me sinto perdida no meio daquele monte de mulheres esquálidas vestindo as roupas feitas para mulheres comuns. Não estou dizendo que as modelos não devem ser magérrimas porque algumas mulheres são magrinhas porque são mesmo. (Elas não são anoréxicas, sabem? Nem toda modelo sofre distúrbios alimentares só porque tem um IMC abaixo da média. Por sinal, AO DIABO com esse Índice de Massa Corpórea que não mede saúde nem aqui nem na china, já dizia minha nutricionista.)

Apenas acho que cada mulher deve ter o corpo que ela quiser de acordo com a genética que lhe foi fornecida. E de acordo com padrões de saúde aceitáveis. Uma passarela mista, ou seja, com modelos de diferentes estaturas e pesos, ofereceria espaço para uma maior diversificação dos modelos de beleza existentes. E devemos lembrar sempre que gosto é gosto e isso não se discute. Eu acho Marilyn Monroe linda, você pode achar a Audrey Hepburn mais bonita e alguns podem achar a Beth Ditto ou a Helena Bohan-Carter ideais de beleza a serem seguidos.

Acho também que hoje em dia as mulheres estão cada vez mais frágeis. Perdemos um pouco a força que costumávamos ter. Eu não concordo com tudo o que o movimento feminista prega hoje em dia,(sou até um pouco machista, na verdade) mas me pergunto onde foi parar a coragem de bater o pé e dizer: eu mereço votar, eu mereço trabalhar, eu mereço ganhar meu próprio dinheiro e ter filhos sozinha se eu quiser?

Eu mereço ter a porra do corpo que eu QUISER ter, oras mas que coisa. Eu não sou manipulável e entendo meus limites. Se sou alta demais não preciso me curvar toda e desenvolver um problema de postura; se sou baixa demais não preciso me obrigar a ficar equilibrada em um salto quinze. E por aí vai. Eu sei que disse que a idéia de passarelas mistas é ótima, mas uma mulher precisa, antes de tudo, saber que não é só porque modelos são todas magras que você precisa ser também.

É uma mistura de tudo que precisa ser reavaliado, mas se a mudança começar em nós mesmas a coisa fica mais fácil. Eu lembro que vivia de dieta e reclamava que estava gorda há uma semana atrás, mas quer saber? Parei. Preciso sim melhorar meus hábitos alimentares, mas não necessariamente porque vou engordar ou coisa do tipo... Porque minha família tem histórico de diabetes e eu não quero terminar espetando minha perna todos os dias com doses de insulina. Não sou plenamente feliz com meu corpo, faço parte das mulheres com cabeça frágil que não são totalmente seguras de si, mas que atire a primeira pedra quem não é assim. Espero que com trinta anos eu seja uma arquiteta poderosa e elegante com meus 50/54 quilinhos de sempre. Não espero ser mais alta e já me conformei com isso, uso salto, mas não aqueles que acabam com meu pé no dia seguinte. E essa sou eu.

E essa é a minha vida : )

Um comentário:

Maria Heloísa disse...

eu visto 38/40 e estou numa corrida contra balança. Mt triste essa nossa sociedade!